- Alô!
...
- Não vais falar?
...
- Se não queres falar não tem problema, não tenho mesmo muito o que fazer. Sabias que não tenho gás? Se tivesse agora estaria fritando ovos, não poderíamos conversar pena. Como tu gostas de ovos? Ah?! Não gostas. Eu prefiro os fritos com a clara torradinha em baixo e a gema mole. És tímido?
Silêncio
- É muito machista supor que tu és tímido e não tímida, já que mais da metade do mundo é mulher. Se for fêmea, perdão querida, mas, minha educação crê que todas as letras maiúsculas e pontos em rubricas, ou mesmo siglas de nomes... Talvez até silêncios de telefone venham a ser de homens.
Silêncio
- Viste o sol hoje? Alias saíste à rua? Podias-me falar como é, há dias não saio, ando com problemas na vista – apesar de ser moça, o médico receitou óculos. Miopia. A gaita está curta, por hora não dá. Encanta-me ver o sol, mas, como não sei bem movimentar-me nessa cidade acho arriscado sair à rua ainda mais cegueta.
Ouve-se apenas um suspiro do outro lado
- O entedio? O incomodo? Se sim, não se acanhe em desligar. Eu entenderei juro que entenderei. Se te sentes só saibas que eu também. Por que não vêm aqui? Não vejo mal nenhum. Uma companhia é sempre bom. Alias já está anoitecendo, logo ficará frio passe aqui assim que deixarmos de falar. Ria do Toneleiro N° 64, ninguém desconfiará, estou realmente só.
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Um comentário:
É, para falar nessa intimidade de confidências cotidianas a uma criatura silenciosa do outro lado da linha, tem de se estar realmente só, muito só.
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